Cárcere
“Pegaram
seu filho nos fundos de seu quintal”, disseram pelo ‘Watsapp’ logo que cheguei
em casa...
Naquele
momento, antes que tomasse conhecimento dos fatos, adentravam por minha sala e
já me rendiam. Não entendia quem eram, mas parecia serem de algum órgão
governamental. Saindo de outro cômodo, vi minha esposa algemada e conduzida
para fora.
Em
segundos estávamos nós três enfileirados e sendo conduzidos para dentro de um
caminhão. “Outras pessoas também eram levadas”, pensei logo que vi vários
soldados pelas ruas. Abordavam pessoas...
Me senti
um criminoso sendo tratado daquele jeito...
Nos
levaram para um local sujo, escuro e cheio de grades de ferro. Parecia com
calabouços de filmes antigos. Vi alguns condenados circulando numa área
próxima. Todos me olhavam com cara de mau.
Era como
se fosse um animal chegando ao matadouro. Minha esposa e filho, já não sabia
onde estavam. Só que estavam noutra galeria, e vivos...
Então
entendi que não adiantava espernear e que o melhor a fazer seria aceitar,
entender e planejar algo para que pudesse me ver livre daquilo. Só que não
seria tão fácil encontrar um jeito de nos libertar daquela escravidão.
Era o que
parecia. Éramos escravos de algo, de um sistema de corrupção, de uma maneira de
viver que só favorecia a alguns e que muitos como nós, sofriam com as mordomias
deles...
O motivo
de estarmos naquele lugar, não sei! Talvez porque não fossemos submissos ao
jeito de ser de muitos que viviam ali e só sobreviviam sujeitos a tudo e a
todos e a imundície que permeava todo mundo.
Ou você
entra na dança, ou é condicionado a viver enjaulado...
Às vezes
era visto um salvador em meio a falcatruas e deliberadas formas de roubanças, mas era um simples fantoche
que estava ali para nos ludibriar. Nos fazer acreditar
que ainda havia uma saída, uma solução para podermos de novo, voltar a viver
como pessoas de bem e dignas de respeito...
Então vim
a saber que todo aquele que não se adequava ao novo sistema, era sujeito a
enfrentar as consequências. Não quis saber qual era essa tal consequência.
Então por acaso ou por obra do destino, fui apresentado a um afiado punhal...
Quem se
atrevesse a me enfrentar e me forçar a algo, era golpeado até a morte.
Descobriram que não podiam me ferir tão facilmente. Eu havia reagido e saído do
estado de dormência e aceitação em que estava...
Como eu,
havia muitos. E tristemente, estes, se entregaram a promessas enganosas e
continuam nesta vida de escravidão ofertada. Ali naquela atitude de não se
aceitar como um objeto, começa minha escalada de volta a sociedade superior e a
busca pela liberdade de minha esposa e filho...
De um
lugar onde a honestidade não seja apenas um meio de autopromoção, mas uma
aliada na busca por melhorar a convivência em comum. Onde a dignidade é
presente mesmo em meio a dificuldade...
Não sei se
vou conseguir, mas já deixo de antemão a possibilidade de tirar vidas para me
ver de volta...
Então num
lúcido suspiro e em meio a boletos e notas promissórias, acordei. Vi minha
esposa presa a lida do dia e meu filho ao trabalho. Com os olhos rasos
d’água, pude sentir uma intensa descarga de raiva e revolta por não conseguir
cumprir com os compromissos financeiros e que o risco de sermos despejados era
iminente...
Mas havia
descoberto que possuía um punhal e ele estava próximo...
Só
precisava ser usado...
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